CASA NOVA

Caros,

Desde o dia 1º de outubro, este blog encontra-se em novo endereço, pois migrou-se para o portal Superesportes, caderno eletrônico esportivo do Estado de Minas.
Eis o novo endereço: www.dzai.com.br/bernardoesteves/blog

Ósculos e amplexos.

MERITOCRACIA


Muito tem se falado ultimamente do investimento dos clubes nacionais em infraestrutura, marketing, administração e até na comissão técnica. Em segundo plano está o que realmente importa para o espetáculo, a qualidade dos jogadores formados e contratados para defender a história do nosso venerado futebol.

Algumas equipes parecem se preocupar mais com a rentabilidade de suas ações, de preferência small caps, as que consiliam pequenos investimentos com grandes retornos, do que em formar grandes escretes, desses que ficam na memória do torcedor. Mais vale algum garoto adquirido ainda nas categorias de base e repassado por alguns milhões pouco tempo depois de estrear no profissional do que contar com a experiência de um veterano atacante, capaz apenas de trazer resultados dentro das quatro linhas.

Uma anomalia, sem dúvida. De que adianta um lindo campo de treinamento, cercado de equipamentos de ponta, placas de publicidade altamente rentáveis, PhDs analisando cada passo dos atletas, se a sala de troféus estiver entregue às moscas? Torcida se fideliza com títulos, não com promoções para sócios. Ainda não vi em lugar algum do mundo aqueles agitadores profissionais irem buscar no aeroporto o novo diretor de marketing, como fazem com os grandes ídolos.

No entanto, para investir em estrelas, é necessário captar recursos primeiro, dirá o outro. Ora, existe maior atrativo para patrocinadores e para a TV do que colar a sua imagem em um clube vitorioso, capaz de arrastar seus milhões de seguidores para seus parceiros comerciais? O Flamengo ganha mais dinheiro vencendo o campeonato, conquistando novos torcedores, aumentando suas cotas de patrocínio e valorizando seus jogadores ou vendendo três imberbes garotos para a Ucrânia? O que é mais rentável a longo prazo? Para qualquer grande empresa, modelos com os quais nossos clubes querem ser comparados, a resposta parece óbvia.

Por isso é bom ver São Paulo e Internacional nas semis da Libertadores e Corinthians e Fluminense na ponta do Brasileiro. O futebol não é muito afeito à justiça e talvez esteja aí o seu diferencial: é o esporte que oferece mais oportunidades para os pequenos se igualarem aos titãs. Mas ver um time em que Dagoberto é substituído por Ricardo Oliveira enfrentar outro em que Taison dá lugar a Rafael Sobis é revigorante, nos dá a impressão de que os esforços de quem apostou no talento estão sendo recompensados. Assim como ler que Washington está chegando para ser reserva de Fred e assistir às belíssimas partidas de Roberto Carlos valoriza os líderes da tabela. Só espero que não seja tudo "ilusão passageira, que a brisa primeira levou" na roda viva do futebol.

TREINADOR?


Praticando o melhor futebol entre as seleções mundiais há quatro anos, a Espanha finalmente ergueu a taça dourada em 2010. Uma Copa na África, com direito a um Uruguai das cinzas para as semifinais, um sub-23 germânico no terceiro posto, um jogo épico com pênalti perdido no último minuto da prorrogação e um campeão inédito. Ufa! Dentro desse mês, digamos, informal, outra discussão se impõem: o Barcespanha precisa de técnico?

Como todos os analistas já se cansaram de dizer, sete jogadores do time titular da Espanha são do Barcelona (ok, Villa até agora só usou a camisa grená para uma sessão de fotos). O toque de bola é do Barcelona. A frieza é do Barcelona. A marcação pressão é do Barcelona. O curioso é que, somando os treinadores da Fúria e do Barça dos últimos cinco anos, temos quatro figuras distintas. O jogo é que continua o mesmo.

Frank Rijkaard foi o primeiro a obter sucesso com a geração de Xavi e Iniesta distribuída em campo ora num 4-2-3-1 ora num 4-3-3. Em 2006, Ronaldinho comandava o time campeão Espanhol e da Champions League, cercado por baixinhos habilidosos e de grande movimentação. Depois de alcançada a glória e um desgaste natural, Deco, Van Bronckhorst e até mesmo Ronaldinho e Rijkaard perderam prestígio e cederam o posto a figuras como Busquets, Henry, Ibrahimovic e Guardiola.

Enquanto Pep Guardiola aguardava ansioso a sua estreia em 2008, a Espanha batia a Alemanha por 1 a 0 e levava o título europeu, comandada por Aragonés. A base do time já era a de Casillas, Puyol, Sergio Ramos, Xabi Alonso, Xavi, Iniesta, Villa, Torres e alguns Marcos Sennas e Capdevilas aqui e ali. E o estilo de jogo também já encantava com suas trocas de passe intermináveis e a ocupação de espaço quase perfeita praticada. Aragonés, com a sensação de dever cumprido e, desconfio, achando que o time tinha dado o que tinha que dar, foi-se para a Turquia e Del Bosque tocou o barco com praticamente o mesmo time e a mesma frequência de vitórias e espetáculos.

Depois da Eurocopa, foi a vez de Guardiola mostrar que era capaz de não atrapalhar um time talentoso e vencedor. Nada de “agora temos que jogar com três volantes e nos contra-ataques, já que o time de Ronaldinho e cia. não rendeu na última temporada”. Dunga e Jorginho bem que poderiam ter passado por lá... Enfim, com praticamente o mesmo esquema de jogo, com algumas substituições naturais de jogadores, o Barcelona decolou novamente e voltou a passear sob o carro de bombeiros na Catalunha. Estranho? É bom ser mais explosivo, como Aragonés, ou centrado, como Del Bosque?

Parece claro que o melhor é saber que, sentado no banco de reservas ou esperneando à beira do gramado, quem resolve as partidas são os jogadores. Não se levar tão a sério faz bem, não só no esporte. Óbvio que um bom técnico ajuda, contribui muito para um time vencedor. Mas nem o mais reconhecido dos treinadores tem o direito de castrar uma equipe reconhecidamente vitoriosa para impor o seu estilo, seja ele de quartel ou de tia solteirona.

EQUILÍBRIO DISTANTE


Desde que a lendária Seleção de 82, ainda conhecida como um esquadrão de craques comandado pelo genial Telê Santana e vítima de uma das maiores injustiças do futebol, perdeu aquele maldito jogo para a Itália, a imprensa brasileira carrega consigo a ideia obsessiva de que, aconteça o que acontecer, o importante é jogar para frente. O Chile ataca com seis jogadores e possui uma defesa desprotegida? Não importa, Bielsa gosta do ataque. A quem diga até que ele teve o mérito de armar uma equipe que acreditava poder partir para cima do Brasil. Ledo engano!

Bielsa, que considero um grande treinador, contribuiu muito para que o Chile fosse massacrado pelo Brasil. Se tivesse tido a humildade de um Carlos Queiroz, esse sim criticado por jogar no contra-ataque com o limitado time português (apesar de ele ter empatado conosco e perdido pela diferença mínima para a Espanha, os dois times apontados anteriormente como favoritos para a Copa), talvez não tivesse sido escorraçado do Mundial. Em um confronto entre os pusilânimes portugueses e os intrépidos andinos, apostaria todo o meu dinheiro em Portugal. Se lançar sem escrúpulos à frente não pode ser irresponsabilidade disfarçada de bravura?

No entanto, não deixa de ser interessante ouvir muita gente boa, ao mesmo tempo em que defende o estilo chileno, dizer agora que a Holanda deve ser um adversário complicado justamente porque, em teoria, alcançou o seu equilíbrio, deixando de lado o espetáculo para ser competitiva. Tudo isso sem se esquecer de que as virtudes de nossos zagueiros, merecidamente, são cantadas em verso e prosa, pois nos defendemos tão bem quanto atacamos. Parece que se lançar sem lenço e sem documento para frente é bonito só no time dos outros. Até quando estamos torcendo indiretamente, como pela Alemanha contra a Argentina, temos a esperança de que um time leve e fogoso caia diante da consistência adversária, marcada pela compactação de seus jogadores e pela obediência tática.

Parando para pensar, esse deslumbre por jogar (viver) no limite não é realmente sem razão. Se resguardar-se e evitar decepções significa jornadas tensas e distantes da felicidade, um pequeno passo separa a morte do grau máximo de satisfação. No dia a dia, procuramos dosar esses dois estilos, aprendendo a conviver com os problemas e seguindo em frente com nossas afáveis lembranças, mas não precisamos exigir isso dos outros. Como expectadores, queremos mais é ver todo mundo morrer de rir!

LINCHADORES À ESPREITA



A França acaba de perder para a seleção mexicana e muitos comentaristas estão eufóricos. Com os olhos esbugalhados e espumando, agradecem a Deus por ter castigado Domenech e seus compatriotas, intrusos no Mundial. Não duvido que mesmo entre os franceses tenha algum Robespierre sedento por “justiça” e sangue. Tudo isso por causa da mão de Henry contra a Irlanda, jogada que provavelmente livrou a França de uma prorrogação indesejada na fase classificatória para a Copa.

Sempre desconfio desses momentos de condenação coletiva, em que se constroem cenários perfeitos para uma turba expiar seus pecados em praça pública e depois retornar para suas casas furando sinais, xingando idosos e passando incólume por faxineiras e porteiros. No caso francês, temos o agravante de que não se está em questão nem um assassinato escabroso nem um desvio de dinheiro milionário, e sim uma jogada com a mão em uma partida de futebol.

Os fatos contam pouco quando aderimos a uma posição formada. Muito provavelmente, a França teria se classificado mesmo com a famigerada falta devidamente assinalada. A partida iria para uma prorrogação de trinta minutos, em Paris. A probabilidade dos franceses conseguirem um gol era muito maior que a dos irlandeses. No entanto, é muito mais conveniente acreditar que a fraca Irlanda foi injustiçada em favor de uma potência europeia.

A indignação seletiva também me tira do sério. Henry, por ter levado a mão à bola, merece ficar no banco de reservas, tem que se dar por satisfeito por estar na África do Sul e pagar por sua falha imperdoável. E Luís Fabiano, famoso por brigas e cusparadas dentro de campo, deve ser deportado para o Brasil? Rooney, que pisou na “zona de sensibilidade” de um jogador português na Copa passada, pode ser tratado como astro do Mundial? Façam-me o favor!

É melhor sermos sinceros e dizermos que estamos com a França atravessada na garganta. Vai saber se Gourcuff não confirma a alcunha de Petit Zidane e nos manda para casa novamente! Prefiro Les Bleus assistindo à fase final da Copa em uma paradisíaca ilha francesa, mas não os renegarei porque não dão esmolas a deficientes ou porque não têm a sensibilidade de se sentar ao chão e chorar ao ouvir a Marselhesa.

PEQUENOS DETALHES


Depois de vitórias suadas e conquistas inesquecíveis, sempre escutamos a história contada pelos vencedores. E eles a contam com tamanha convicção que nos sentimos estúpidos por não termos enxergado obviedades que estavam diante do nosso nariz. O que parece de lado nessas situações talvez seja a maior das verdades: a presença do imponderável em nossas vidas, muitas vezes superior a racionalizações humanas e baratas.

Lembro-me bem de uma entrevista de Muricy Ramalho ao Bola da Vez, da ESPN Brasil, dias depois do São Paulo conquistar o tri brasileiro. O tricolor paulista venceu o Goiás por 1 a 0 e deixou o Grêmio com o vice-campeonato. Muricy destacou a análise que fez do time goiano, os trabalhos realizados pelo São Paulo durante a véspera do jogo, a presença da torcida paulista no estádio e concluiu: “Não tínhamos como perder aquele jogo.” Só se esqueceu de dizer que o São Paulo levou com um gol de Borges impedido. Assim como contou com a ajuda da arbitragem para bater o Flu uma semana antes.

Então Muricy não teve nenhum mérito? Claro que teve, mas não existe essa de “o trabalho era tão bom que não tínhamos como perder” no futebol. Recorro a outros dois exemplos internacionais para ratificar minha ideia. O merecidamente aclamado Barcelona, vencedor de tudo em 2009, poderia ter ficado “apenas” com os títulos nacionais, se não fosse a arbitragem desastrosa da semifinal da Champions contra o Chelsea. Assim como a Inter de Mourinho o beatificou depois de conseguir um 3 a 1 em Milão contra o próprio Barça, graças a um gol de impedimento e um pênalti não marcado para os espanhóis.

Esta semana o Marca traz perfis de Mourinho como se fossem do novo Papa, contando em detalhes sua infância, o início de sua carreira e a relação do português com sua mulher, Matilde. Toda essa euforia pode desmoronar com uma contusão inesperada de Cristiano Ronaldo ou com uma falta mal marcada. Por um escorregão do capitão do time na última cobrança da decisão por pênaltis, São José pode voltar a ser o retranqueiro carrancudo. Como diria Paulinho da Viola, a vida não é equação para ser resolvida.

REDENÇÃO




Hoje em dia, qualquer olhadela de um treinador para o céu faz o torcedor se indagar se o sujeito está mesmo conversando com o Homem, tamanha a importância que eles ganharam no futebol moderno. O time venceu, nó tático; perdeu, troca o comando. Assim como são facilmente endeusados, pagam por muito tempo por algum trabalho ruim. Nessa ciranda, não raro assistimos a voltas por cima como as de alguns treinadores neste ano.

Aqui no Patropi, Luxemburgo e Joel Santana se reencontraram com os títulos no primeiro semestre. O primeiro, também conhecido como “profexor”, parecia há tempos mais dedicado aos seus negócios do que ao futebol. Mas, verdade seja dita, o time do Atlético é outro com ele. Ricardinho e Júnior deixaram a fila do INSS e voltaram a jogar bem, Fabiano e Leandro aproveitaram a nova chance que receberam e o jogo ofensivo e vistoso do treinador começa a dar o ar de sua graça. Além de encarar com coragem o festejado Santos, Luxemburgo levou o Mineiro, competição já acostumada com os passeios do Cruzeiro.

A prancheta de Joel virou artigo de luxo no mercado depois de ressuscitar o Botafogo. O mesmo Joel que foi defenestrado do cargo de coach da África do Sul e que não conseguiu realizar o sonho de participar de uma Copa do Mundo. Ciente das deficiências do medíocre Botafogo, disse “yesse” ao desafio e, com largas doses de realismo, soube aproveitar as poucas qualidades da equipe: a bola aérea, a garra dos gringos e a obediência tática dos jogadores. Também campeão estadual, rejeitou um convite do Flamengo e mostrou que pode, sim, com seu jeitão bonachão, liderar equipes vencedoras.

Na Europa, Ancelotti, Mourinho, Van Gaal e McLaren são agora admirados, com os bons resultados, mas passaram por maus bocados. Ok, como Luxemburgo, Ancelotti e Mourinho sempre estiveram no grande escalão do esporte, mas dizer que eles estavam em alta é falta de memória. Implicavam com o “retranqueiro” Ancelotti no Milan como com o decepcionante Mourinho da Inter, que não fazia nada diferente do que Mancini, com muito mais dinheiro. Até o Chelsea mostrar sua ofensividade avassaladora e a Inter chegar a três decisões. Sofriam também o ultrapassado antibrasileiros Van Gaal (ora finalista da Champions, da Copa da Alemanha e campeão Alemão) e o sortudo incompetente McLaren, que comemora hoje o primeiro título holandês do Twente.

Não seria assim a vida também? Claro, acertamos algumas vezes no alvo, em outras passamos longe. Mas não nos candidatamos ao Olimpo quando estamos bem e, se a época não é das melhores, não precisamos nos refugiar em casa. Nos identificamos nos astros (hoje talvez os técnicos sejam os maiores no futebol) e, cientes ou não, nos divertimos com a vida cíclica de altos e baixos de egos inflados que se supõem acima de nossas risadas sarcásticas. Para não esquecer: é sempre saudável assistir aos grandes em forma; não seguramos nossas línguas quando nos achamos melhores do que eles, mas sabemos admirar seus feitos.

O MITO LIBERTADORES




No Brasil, falar em Libertadores sem um ar solene e preocupado é praticamente uma blasfêmia. A maior competição das Américas desperta nos técnicos e jogadores nativos um temor tamanho que parece que as armas de Simón Bolívar e cia. estão diretamente apontadas para eles. Paradoxalmente, o torneio carregado de simbolismos libertários aprisiona o que poderíamos chamar de alma do futebol brasileiro.

Nossa escola é conhecida em todo o planeta por seu instinto ofensivo, por seus jogadores extremamente habilidosos, rápidos e, uma distinção que nos tem faltado amiúde, destemidos. É como se fôssemos africanos que descobriram que o futebol não é apenas um jogo, capazes de aliar a estratégia à técnica apurada. Podemos dizer que, mesmo que não sejam primores de equipes, nossos times ainda carregam essas características do futebol brasileiro. Continuamos deixando nossos zagueiros muito desprotegidos (não é por isso que eles brilham na Europa?), nossos laterais seguem avançando muito e nossos atacantes persistem em não ajudar na composição do sistema defensivo das equipes.

Se os clubes hoje carecem de talentos para apresentarem um futebol mais vistoso e empolgante, podemos discutir em outro momento. O que não quer dizer que temos praticado um futebol defensivo, com exceções que confirmam a regra. O Campeonato Brasileiro é marcado por um perde-e-ganha típico de times que se agridem. Raramente observamos um Fluminense, um Flamengo ou um Corinthians mudarem suas escalações para anular a tática adversária.

Contudo, o “espírito de Libertadores” parece nos deformar nos confrontos sul-americanos. Mesmo na edição deste ano, sem rivais como Boca, River, LDU e América do México, entramos travados nos jogos, ainda caímos na catimba dos nossos hermanos. Qual era a chance de um Flamengo que partisse para cima da fraca equipe da Universidad Católica não levar os três pontos? Um Cruzeiro que encurralasse o medíocre time do Colo-Colo venceria ou não? A resposta é óbvia e ululante, apesar de não estarmos tratando do complexo de vira-lata rodriguiano. Sabemos que somos melhores, mas respeitamos muito o famoso “clima” da Libertadores.

O resultado são cinco favoritos que ainda não deslancharam (incluo o Corinthians, que somou muito pontos por ter pegado um grupo muito frágil, mas que ainda não brilhou), que não enchem seus torcedores de confiança. Os times argentinos jogam quase como em casa quando vêm ao Brasil; vencendo ou não, mostram o que podem mostrar. Nós ainda precisamos nos libertar para nos tornarmos os Libertadores da América.

O PATINHO FEIO




Todo ano de Copa do Mundo é a mesma coisa. O treinador tem a sua lista de salvadores da pátria, formada pelo “trabalho” e pelo “planejamento” de quatro anos de preparação para o torneio - além do “momento” e do “encaixe” do time, é claro -, e os torcedores reclamam sua equipe ideal. Jogadores voluntariosos costumam ser preteridos pela massa ignara (como diria o Nelsão), seduzida pelo flerte com a arte praticado pelos mais talentosos.

Até aí, tudo bem. Cada qual com seu pensamento. O que mais me aflige é a falta de memória da multidão, que está sempre a pedir o nome do momento e sequer cogita a presença de atletas antes exigidos. Alguém por aí anda lamentando a falta da canhota de Alex no grupo? Hernanes era só um devaneio passageiro? E Pato... Quem é Pato?

Pois bem, chegamos finalmente ao ponto. Pato, que já fugiu das mentes inquietas de grande parte dos 190 milhões de brasileiros, foi objeto de clamor popular no início do trabalho de Dunga, mesmo sem atuar pelo Milan. Suspeito que pessoas que nunca o viram jogar pediam por ele na Seleção. E o que aconteceu de lá para cá? Pato tornou-se um jogador muito melhor! No entanto, escassearam suas chances com a amarelinha.

Vale ressaltar que Dunga não é de todo um louco. Pato foi convocado e participou, inclusive, das Olimpíadas. Teve uma atuação de um garoto de 18 anos que não é Pelé nem Maradona. Assim como Messi, que passou despercebido na Copa de 2006. Mas pagou pelo desempenho brasileiro como gente grande. Até mesmo os que lutavam por ele o esqueceram.

Hoje, Neymar e Ganso são as bolas da vez. Sem contar o Ronaldinho, que não se encaixa nesse perfil, pois sempre foi mais do que lembrado. Até o Luxemburgo, dia desses, pediu a convocação de Neymar. Mas esse garoto não é, no máximo, o Pato de 2008? Com o agravante de nunca ter disputado um Mundial de Clubes por seu clube e nem ter vestido a camisa da Seleção. E Pato, o Neymar de ontem, como está? Ah, sim. Em dois anos ele firmou-se como titular absoluto do Milan, foi comparado a Giuseppe Meazza por fazer 17 gols em uma temporada com apenas 19 anos, é o artilheiro rossonero na Serie A e o termômetro da equipe: quando joga, o ataque vai bem; quando está machucado (o que tem sido frequente), aí “vareia”, como diria o outro.

Além de uma alternativa ofensiva para a Seleção, Pato poderia brigar pela titularidade com Robinho. Formando dupla de ataque com Luis Fabiano, ou um trio com este e Robinho, intimidaria os adversários, que já o reconhecem. O garoto de 60 milhões de euros (especula-se que seja esta a proposta do Real Madrid) seria uma dor de cabeça para os rivais, não para Dunga. Se Neymar, Ganso e companhia brilharem como ele nos próximos anos, já temos o ataque formado para 2014.

ICONOCLASTA


Direto do Houaiss: iconoclasta – aquele que ataca crenças estabelecidas ou instituições veneradas. A partir de agora, podemos sugerir uma forma mais prática para o verbete: iconoclasta – futebol praticado pelo Barcelona. O Barça de Xavi e Messi passa por cima de verdades do futebol moderno assim como atropela a maioria de seus adversários.

Imagine um homem de barba e cabelos brancos e longos, com sua veste tremulando ao vento, a bradar: “Irmãos, a equipe que quiser sair vitoriosa dos prélios ludopédicos do novo milênio deverá obedecer a alguns princípios básicos. Primeiro, seguir o antigo conselho de que um grande time começa por um grande goleiro. Depois, organizar uma defesa sólida, com ótimos zagueiros e laterais que avancem quando necessário. Jogadores altos e fortes, à Minelli, são recomendados. Outro passo é chegar a um meio-de-campo harmônico, por meio da mescla de marcadores eficazes e talentosos armadores. Um bom jogo aéreo é fundamental. Por último, um ataque que dê o toque final à velocidade do time, chegando ao gol em poucos toques.”

Guardiola, sempre com seu elegante pulôver, dá risadas à margem do rio, pensando: “Você ainda não viu meus meninos jogando...” Cheio de razão. Para começar, Victor Valdés inspira tanta confiança quanto Clemer debaixo das traves. Piquet (rejeitado pelo Manchester United) e Puyol são beques que não enchem os olhos de nenhum grande time do mundo. Alguém vai dizer que Daniel Alves marca tão bem quanto ataca? Não, ele joga tão bem quanto um meia. Isso sem falar na presença de apenas um volante-volante, ora Busquets, ora Keita, ora Touré.

O ataque merece um parágrafo à parte. Os gigantes Messi, Pedro, Bojan e Jeffren, auxiliados constantemente pela presença de Xavi e Iniesta, estão desbancando os imponentes Henry e Ibrahimovic. Formam um ataque-defesa, que marca sob pressão o adversário e o encurrala em seu campo. Uma linha de frente de toque de bola, capaz de trocar passes por dois minutos até encontrar a brecha esperada para dar o bote. Um esquadrão que chega tabelando, cerca o oponente por todos os lados, infiltra-se por todas as brechas, raras vezes recorrendo à artilharia pesada das bolas alçadas.

O Barcelona, com sete jogadores das categorias de base entre os titulares, é a prática perfeita da ocupação de espaço. Se é verdade que nenhuma outra equipe tem um jogador talentoso como Messi, mais importante é a dinâmica de jogo de Iniesta e Xavi, alicerces do time. Vitória a vitória, conquista a conquista, o Barça demonstra que o futebol continua o mesmo e nos delícia com seus ataques a “instituições veneradas” como o Real Madrid e o Arsenal, suas últimas vítimas.

A EUROPA CONTRA-ATACA


Nos últimos tempos, o futebol britânico tem ofuscado as outras escolas europeias. Desde a temporada 2006/2007, três clubes ingleses figuram entre os quatro semifinalistas da UEFA Champions League. O motivo? Nenhuma novidade: dinheiro, dinheiro e mais dinheiro. No entanto, este ano o maior torneio do continente trouxe um ar de esperança aos amantes da competitividade, aos telespectadores ávidos por duelos entre os principais esquadrões europeus, cansados de assistirem a uma espécie de Taça da Inglaterra.

Com o massacre de Messi, quer dizer, do Barcelona sobre o Arsenal, a vitória tática de Mourinho, quer dizer, da Inter sobre o Chelsea e a vergonhosa participação do Liverpool, apenas o Manchester United, que joga hoje contra o Bayern, pode levar o caneco para a terra da Rainha. Independente de o Manchester conquistar o título, e eu acho que é a equipe mais capacitada para tal, a presença de um francês, de um italiano e de um espanhol nas semis dá uma chacoalhada na competição e, confesso a minha alegria, um susto no soberbo futebol inglês.

Sheiks árabes, mafiosos russos, políticos corruptos e megaempresários despejaram caminhões de dinheiro nos clubes ingleses. Os titãs locais puderam se dar ao luxo de contratarem jogadores de 30 milhões de euros para compor seus elencos e o enxerto de categoria na Premier League transformou o áspero jogo de balões para a área em um futebol compacto, capazes de decidir uma partida em seis ou sete toques rápidos.

Nesse contexto, baluartes do futebol europeu como Milan e Barcelona passaram a ocupar o posto de desafiantes do império. Ora vencedores, ora vencidos, representavam ligas cada vez mais à sombra da inglesa, vistas até como decadentes. E com certa dose de razão. Por isso é bom que representantes da estratégia italiana e do talento espanhol se sobressaiam juntos, dividam um espaço que, na verdade, nunca lhes deixou de pertencer. É igualmente importante um Lyon latino e um Bayern ofensivo fazendo bonito. Só resta esperar para saber se não foi apenas um sopro passageiro, últimos suspiros de gigantes vencidos.

PROFESSORES




Depois de ser muito questionado, passar por maus bocados tanto com a imprensa quanto com os torcedores, Dunga goza hoje de um momento raro na vida de qualquer técnico à frente da Seleção: uma tranquilidade pastoril paira sobre a Granja Comary. E aí está o problema. Erros que podem custar o mundial estão sendo encobertos pelos bons resultados.

O Brasil, com méritos, conquistou a Copa América e a das Confederações, fez uma grande Eliminatória e venceu a grande maioria dos amistosos disputados. Alguma semelhança com a equipe de Parreira? Pois é. Professor Parreira, respaldado pelo seu histórico, deu de ombros aos questionamentos da imprensa quanto a jogadores como Roberto Carlos, Cafu, Emerson, Ronaldo e Adriano e arrumou as malas de volta para casa precocemente, após ser eliminado nas quartas-de-final. Dunga, sempre apontando o dedo para as estatísticas da Seleção sob o seu comando, também se sente no direito de “fechar” com atletas como Doni, Felipe Melo, Gilberto Silva e Josué. Tomara que o Brasil não precise de nenhum deles para levantar a taça!

Outra crítica comum aos dois escretes é a falta de opções táticas testadas para eventualidades. Quando a Seleção precisou mudar contra a França em 2006, não conseguiu. Juninho não preencheu o meio-de-campo, Ronaldo não foi municiado por todos os lados e o Brasil não encurtou o espaço dos veteranos franceses. O time nunca havia feito isso, por que em um jogo eliminatório de Copa do Mundo iria conseguir? Foquemos na equipe de Dunga. Sem Ronaldinho, sem Pato, sem outro grande talento no banco, o que de diferente do já apresentado a Seleção pode mostrar? No máximo pode recorrer à retranca da Copa América se as coisas não andarem bem. Tomara que o Brasil não precise de variações táticas para levantar a taça!

E o estudo detalhado dos adversários? Dunga dizendo que o Chile joga com duas linhas de quatro (a resposta automática dos treinadores quando não sabem em que esquema jogam os rivais) soa tão ridículo quanto Zagallo se dizendo surpreso com a atuação do número quatro da República Tcheca, um tal de Nedved. O mesmo Dunga que achou que passaria por cima quando quisesse de seleções como a Bolívia e a Colômbia, mas que esbarrou no sistema defensivo de ambas. Tomara que o Brasil não precise conhecer a tática adversária para levantar a taça!

O que não resta dúvida é que Dunga nasceu mesmo virado para a Lua. Diferentemente de Parreira, professor do gaúcho e muito mais experiente do que ele, Dunga disputará uma Copa em solo neutro, a África, e não na tradicionalíssima Alemanha, como seu antecessor. Seus concorrentes de sempre, Itália, França, Argentina e a própria Alemanha, não se encontram no melhor de sua forma, deixando, teoricamente, na mão de seleções com menos lastro como Espanha e Inglaterra a inglória tarefa de desbancar os pentacampeões mundiais. Corolário: o Brasil é mesmo o favorito para a Copa! Mas, historicamente, a tranquilidade inatacável costuma ser sinal de maus presságios.

MAGAVILHA


Cabelos ralos grisalhos, pequeno óculos de grau, baixa estatura, introvertido e com um ar de tecnocrata. Esse é Felix Magath, treinador do Schalke 04, atual líder do campeonato alemão, e personagem com uma visibilidade na mídia inversamente proporcional à sua competência.

Avesso aos holofotes, sem o estilo elegante de Roberto Mancini, o carisma de Luiz Felipe Scolari e a ironia de José Mourinho, Magath acumula títulos da Bundesliga sem ser notado pela imprensa mundial. Paradoxalmente, seus laços no futebol estão firmados na metrópole da comunicação alemã, Hamburgo. Com o time local ele venceu a Liga dos Campeões de 1983, como jogador, e iniciou sua carreira de técnico, em 1993. No entanto, somente em 2003 destacou-se na nova função, levando o Stuttgart ao vice-campeonato alemão, feito que chamou a atenção do gigante Bayern de Munique.

Magath foi o escolhido para substituir Ottmar Hitzfeld no time bávaro e, com seu estilo linha-dura que lhe rendeu a alcunha de Saddam, faturou o Campeonato e a Copa da Alemanha nas temporadas de 2005 e 2006. Enfim, cravou seu nome na história do vencedor futebol germânico, e sem negar a raça: sempre privilegiou características como força física, jogo aéreo de qualidade e determinação em suas equipes.

Em 2007 o título alemão escapou e, como qualquer treinador que não levanta o caneco no Bayern, foi demitido. Transferiu-se para o Wolfsburg, time da Volkswagen que mais parecia uma montadora automotiva, tamanha a sua falta de intimidade com o futebol. E não é que o homem tomou o chope da vitoria novamente em 2009, junto com Grafite, Dzeko e companhia! Sim, sob seus auspícios o time verde e branco desbancou os rivais, fez do atacante brasileiro o artilheiro do campeonato e alcançou sua maior conquista em todos os tempos.

Seduzido por uma proposta irrecusável do Schalke 04, um dos clubes mais ricos do mundo (sim, é verdade), Magath trocou o trabalho consolidado no Wolfsburg pela tarefa de remontar o time de Gelsenkirchen, que conta com uma das torcidas mais fanáticas da Europa. E essa torcida não tem do que reclamar: com a vitória sobre o Leverkusen neste sábado, por 2 a 0, o Schalke assumiu a ponta do campeonato a seis rodadas do final.

O Schalke não é campeão desde 1958 e conta com os brasileiros Kuranyi, Edu, Bordon e Rafinha, prováveis colegas de mais um feito do senhor Magavilha. E, mesmo que não leve, o Schalke e Magath já mostraram do que um bom trabalho é capaz. Só falta a seleção alemã e o mundo descobrirem a cabeça por trás deste feito.

AMIGOS FRATERNOS






A foto acima é da visita "fraterna", como definiu uma reportagem cubana, do presidente Lula aos sanguinários Fidel e Raúl Castro. Uma vergonha para o país. Uma vergonha para a democracia e para os direitos humanos. Imaginem uma foto de FHC com Pinochet, ou uma de Serra com Médici. Seriam justamente bombardeados por bajularem fascínoras.

Para piorar, a visita ocorreu no dia seguinte à morte de Orlando Zapata, oposicionista dos irmãos Castro condenado a mais de 30 anos de prisão por discordar da ditadura e que faleceu em decorrência de uma greve de fome (os policiais rejeitaram os últimos pedidos de água do morto, que agonizava em um hospital de quinta). Lula, como de costume, não fez sequer uma censura ao regime cubano e apenas lamentou porque Zapata "se deixou morrer" por uma greve de fome, assim como alguém que "se deixa atropelar" por um carro, esquecendo-se de todo o contexto político da situação. Em uma visita à Venezuela, o presidente disse que naquele país existe "democracia até demais".

Enquanto isso o PT vai tentando passar por cima de todas as intituições brasileiras, fator que deve ganhar mais força com Dilma na presidência, já que ela é conhecida por ser menos "fraterna" que o amigo molusco e chegada a uma armazinha para fazer terrorismo. Ou nos livramos do PT nas próximas eleições ou ele se livra da gente, como seus amigos de "regimes de excessão".