ARRIVEDERCI, CAPITANO



Sete scudetti, cinco Ligas dos Campeões, cinco Supercopas da Europa e da Itália, três Mundiais Interclubes e uma Copa da Itália. Números de toda a história do Milan? Quase. Números de uma lenda: Paolo Maldini.

No último dia 24, em seu 901º jogo pelo Milan, o capitão se despediu de San Siro na derrota para a Roma por 3 a 2. Noves fora o placar adverso e a estupidez dos “ultras” da Curva Sul do estádio (torcida organizada só dá trabalho, em qualquer lugar) - que levaram ao estádio uma facha agressiva por não engolirem o desdém do ídolo pelo bando -, a festa foi bonita, com direito a camisas comemorativas, cachecóis personalizados e lágrimas.

Cada jogador carregava do lado direito do peito um símbolo com a marca do número 3 de Maldini. Enquanto jogavam, observavam a torcida, que cantava e erguia cachecóis em homenagem ao defensor. Ao final da partida, o ídolo deu a famosa volta de agradecimento/reconhecimento no campo e não conteve o choro, observado pelo resto do elenco, claramente emocionado com o feito do capitão.

Maldini é o maior exemplo de toda uma geração. Além dos recordes impressionantes e aparentemente insuperáveis, fora das quatro linhas sempre manteve seu jeito discreto e sua liderança nata. Nada de cabeçadas em adversários, gritos estridentes e sapateadas metafísicas a cada erro da equipe. A tranquilidade de quem sabe o que está fazendo marcou sua carreira. Em uma classe desunida, é um dos poucos atletas admirados pelos colegas, que torcem por seu sucesso. “Ele é fantástico, um vencedor, um jogador que ficou tantos anos no futebol e que conseguiu mudar bastante e se reinventar ao longo do tempo. Em sua posição, acho que ele é um dos maiores em toda a história do futebol”, afirmou Totti, o estraga-prazer da festa de Maldini, autor do terceiro gol da Roma.

Filho do ex-jogador Cesare Maldini, começou a carreira em 1985, com apenas 16 anos, no Milan, único clube de toda a sua carreira. Com sua trajetória dividida entre o clube milanês e a Seleção Italiana, impressionou pelo talento raro a um defensor, que lhe capacitava a sair jogando e a driblar atacantes mais afoitos. Hoje, prestes a completar 41, encerra sua 24ª temporada no clube rossonero, algo praticamente impensável no futebol moderno, em que empresários comercializam jogadores como ações na Bolsa de Valores.

A camisa número 3 de Maldini será aposentada a partir da sua retirada dos gramados. Assim como foi a número 6, de Franco Baresi, que passou a braçadeira a Paolo em 1997. O Milan, por sinal, parece ser hoje o clube mais apegado a suas tradições: mesmo com um futebol globalizado, seis titulares são italianos e o corpo técnico do clube está recheado de ex-jogadores. Não será surpresa para ninguém se em um futuro próximo Maldini assumir pela primeira vez um lugar cativo no banco de reservas do Milan, como treinador.

Este ano perdemos, além de Maldini, Nedved, o craque tcheco da Juventus. Pena para o futebol, que se apequena.