LINCHADORES À ESPREITA



A França acaba de perder para a seleção mexicana e muitos comentaristas estão eufóricos. Com os olhos esbugalhados e espumando, agradecem a Deus por ter castigado Domenech e seus compatriotas, intrusos no Mundial. Não duvido que mesmo entre os franceses tenha algum Robespierre sedento por “justiça” e sangue. Tudo isso por causa da mão de Henry contra a Irlanda, jogada que provavelmente livrou a França de uma prorrogação indesejada na fase classificatória para a Copa.

Sempre desconfio desses momentos de condenação coletiva, em que se constroem cenários perfeitos para uma turba expiar seus pecados em praça pública e depois retornar para suas casas furando sinais, xingando idosos e passando incólume por faxineiras e porteiros. No caso francês, temos o agravante de que não se está em questão nem um assassinato escabroso nem um desvio de dinheiro milionário, e sim uma jogada com a mão em uma partida de futebol.

Os fatos contam pouco quando aderimos a uma posição formada. Muito provavelmente, a França teria se classificado mesmo com a famigerada falta devidamente assinalada. A partida iria para uma prorrogação de trinta minutos, em Paris. A probabilidade dos franceses conseguirem um gol era muito maior que a dos irlandeses. No entanto, é muito mais conveniente acreditar que a fraca Irlanda foi injustiçada em favor de uma potência europeia.

A indignação seletiva também me tira do sério. Henry, por ter levado a mão à bola, merece ficar no banco de reservas, tem que se dar por satisfeito por estar na África do Sul e pagar por sua falha imperdoável. E Luís Fabiano, famoso por brigas e cusparadas dentro de campo, deve ser deportado para o Brasil? Rooney, que pisou na “zona de sensibilidade” de um jogador português na Copa passada, pode ser tratado como astro do Mundial? Façam-me o favor!

É melhor sermos sinceros e dizermos que estamos com a França atravessada na garganta. Vai saber se Gourcuff não confirma a alcunha de Petit Zidane e nos manda para casa novamente! Prefiro Les Bleus assistindo à fase final da Copa em uma paradisíaca ilha francesa, mas não os renegarei porque não dão esmolas a deficientes ou porque não têm a sensibilidade de se sentar ao chão e chorar ao ouvir a Marselhesa.

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