PEQUENOS DETALHES


Depois de vitórias suadas e conquistas inesquecíveis, sempre escutamos a história contada pelos vencedores. E eles a contam com tamanha convicção que nos sentimos estúpidos por não termos enxergado obviedades que estavam diante do nosso nariz. O que parece de lado nessas situações talvez seja a maior das verdades: a presença do imponderável em nossas vidas, muitas vezes superior a racionalizações humanas e baratas.

Lembro-me bem de uma entrevista de Muricy Ramalho ao Bola da Vez, da ESPN Brasil, dias depois do São Paulo conquistar o tri brasileiro. O tricolor paulista venceu o Goiás por 1 a 0 e deixou o Grêmio com o vice-campeonato. Muricy destacou a análise que fez do time goiano, os trabalhos realizados pelo São Paulo durante a véspera do jogo, a presença da torcida paulista no estádio e concluiu: “Não tínhamos como perder aquele jogo.” Só se esqueceu de dizer que o São Paulo levou com um gol de Borges impedido. Assim como contou com a ajuda da arbitragem para bater o Flu uma semana antes.

Então Muricy não teve nenhum mérito? Claro que teve, mas não existe essa de “o trabalho era tão bom que não tínhamos como perder” no futebol. Recorro a outros dois exemplos internacionais para ratificar minha ideia. O merecidamente aclamado Barcelona, vencedor de tudo em 2009, poderia ter ficado “apenas” com os títulos nacionais, se não fosse a arbitragem desastrosa da semifinal da Champions contra o Chelsea. Assim como a Inter de Mourinho o beatificou depois de conseguir um 3 a 1 em Milão contra o próprio Barça, graças a um gol de impedimento e um pênalti não marcado para os espanhóis.

Esta semana o Marca traz perfis de Mourinho como se fossem do novo Papa, contando em detalhes sua infância, o início de sua carreira e a relação do português com sua mulher, Matilde. Toda essa euforia pode desmoronar com uma contusão inesperada de Cristiano Ronaldo ou com uma falta mal marcada. Por um escorregão do capitão do time na última cobrança da decisão por pênaltis, São José pode voltar a ser o retranqueiro carrancudo. Como diria Paulinho da Viola, a vida não é equação para ser resolvida.

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