O MITO LIBERTADORES




No Brasil, falar em Libertadores sem um ar solene e preocupado é praticamente uma blasfêmia. A maior competição das Américas desperta nos técnicos e jogadores nativos um temor tamanho que parece que as armas de Simón Bolívar e cia. estão diretamente apontadas para eles. Paradoxalmente, o torneio carregado de simbolismos libertários aprisiona o que poderíamos chamar de alma do futebol brasileiro.

Nossa escola é conhecida em todo o planeta por seu instinto ofensivo, por seus jogadores extremamente habilidosos, rápidos e, uma distinção que nos tem faltado amiúde, destemidos. É como se fôssemos africanos que descobriram que o futebol não é apenas um jogo, capazes de aliar a estratégia à técnica apurada. Podemos dizer que, mesmo que não sejam primores de equipes, nossos times ainda carregam essas características do futebol brasileiro. Continuamos deixando nossos zagueiros muito desprotegidos (não é por isso que eles brilham na Europa?), nossos laterais seguem avançando muito e nossos atacantes persistem em não ajudar na composição do sistema defensivo das equipes.

Se os clubes hoje carecem de talentos para apresentarem um futebol mais vistoso e empolgante, podemos discutir em outro momento. O que não quer dizer que temos praticado um futebol defensivo, com exceções que confirmam a regra. O Campeonato Brasileiro é marcado por um perde-e-ganha típico de times que se agridem. Raramente observamos um Fluminense, um Flamengo ou um Corinthians mudarem suas escalações para anular a tática adversária.

Contudo, o “espírito de Libertadores” parece nos deformar nos confrontos sul-americanos. Mesmo na edição deste ano, sem rivais como Boca, River, LDU e América do México, entramos travados nos jogos, ainda caímos na catimba dos nossos hermanos. Qual era a chance de um Flamengo que partisse para cima da fraca equipe da Universidad Católica não levar os três pontos? Um Cruzeiro que encurralasse o medíocre time do Colo-Colo venceria ou não? A resposta é óbvia e ululante, apesar de não estarmos tratando do complexo de vira-lata rodriguiano. Sabemos que somos melhores, mas respeitamos muito o famoso “clima” da Libertadores.

O resultado são cinco favoritos que ainda não deslancharam (incluo o Corinthians, que somou muito pontos por ter pegado um grupo muito frágil, mas que ainda não brilhou), que não enchem seus torcedores de confiança. Os times argentinos jogam quase como em casa quando vêm ao Brasil; vencendo ou não, mostram o que podem mostrar. Nós ainda precisamos nos libertar para nos tornarmos os Libertadores da América.

1 Response to O MITO LIBERTADORES

Filipe Abreu
1 de maio de 2010 às 20:01

Concordo com você, mais uma vez.

Baseado na sua ideia, tenho até uma teoria pra 2010: não teremos brasileiros na decisão da Libertadores.

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